segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Comunista

Paulo Jorge tem 79 anos. Integra o MPLA (Movimento Popular Para a Libertação de Angola, partido que está no poder desde a independência do país, em 1975) praticamente desde sua fundação, em 55. A partir desta época militou na clandestinidade em células revolucionárias em Lisboa. Recebiam apoio e instruções do Partido Comunista Português. Ali começava a revolução.
Nos anos 1960, de volta a Angola, engajou-se na nas frentes de batalha que lutavam contra os portugueses nas províncias de Cabinda e Moxico.
Formou o primeiro governo do atual Estado angolano, ao lado do líder revolucionário e primeiro presidente, Agostinho Neto. Foi ministro das relações exteriores.
Quando me encontrei com ele, usava um costume com túnica a Mao Tsé-Tung. Soube depois que tem várias iguais e jamais foi visto com outra vestimenta. Achei que não existiam mais pessoas assim.
Hoje, ainda um ardoroso militante do partido, faz parte da “nomemklatura”. É um dos 281 membros do Comitê Central do MPLA, membro do Birô Político do MPLA, membro do secretariado do Birô Político do MPLA, e também secretário do Birô Político do MPLA para relações internacionais (ufa!).
Comunista convicto, parece não se importar com o fato de Angola estar totalmente inserida na economia global de mercado.
Nas fotos como a de cima, estava carrancudo. Pedi-lhe que sorrisse ao menos em algumas. Ríspido, disse-me que um comunista nunca sorri. Alertei-o de que atrás dele havia um Agostinho Neto com um sorriso exuberante. Não se conteve, mas rapidamente se recompôs. Foi a única que fiz.
No final da sessão de fotos, um pouco extenuado, perguntou-me impaciente porque tantas. Brinquei dizendo que, como o fotógrafo não é bom, era necessário fazer muitas para que pelo menos uma ficasse boa. Respondeu-me severo: “Nunca se esqueças que a humildade não é uma virtude”.

Nenhum comentário: